Nova pista de Dinossáurios será a 7ª desta vez no lado oposto às anteriores agora na zona oriental da cordilheira da Arrábida. Confirmei-a quando vi as fotos que uns amigos tinham tirado, quando a encontraram em 2018. Neste estudo preliminar descrevo apenas o possível, de acordo com a informação que disponho neste momento. Situa-se na área de exploração da pedreira da SECIL, nas coordenadas 38º 29´ 40,9´´N 8º 57´ 08,5´´W.

Ocorre em lajes sedimentares do Jurássico (carta geológica folha 38B – Setúbal), formadas por calcários, calcários margosos e margas de há cerca de ±150 Milhões de anos. "A serra começou a erguer-se há cerca de 17 milhões de anos e o soerguimento de terras deu-se por colisão, levando à subida, para a superfície, dos materiais sedimentares que se tinham formado em ambientes marinhos aquando do início da abertura do Atlântico Norte” , Kullberg (2014).

As fotos que apresento, tiradas pelos meus amigos, Eurico Varela e João Ferrãopermitem notar a existência de vários trilhos, bem como pegadas dispersas, em dois afloramentos, que vou tentar explicar de acordo com as conclusões a que cheguei.



Afloramento 1 – notam-se três níveis, sendo que no primeiro existe o maior número de pegadas.


Nível 1 -

Contem 3 pistas muito bem definidas e outras possíveis de definir localmente, além de várias pegadas dispersas. Da análise efectuada, posso concluir que são todas de saurópodes (quadrúpedes herbívoros), atendendo à forma das marcas as maiores, ovais (pés) e as menores em forma de meia-lua (mãos).

E com base na posição das marcas dos autópodes, em relação à linha média do trilho, ausência de espaço entre as margens internas das pegadas, conclui-se que seriam do tipo que Farlow (1992) apelidou de pistas de bitola estreita “ narrow-guage”. O que significa que a espécie de saurópodes que caminharam aqui são do mesmo icnogénero Parabrontopodus (Lockley et al., 1994), que no caso da Pedreira do Avelino.

Atendendo à orientação/deslocamento e sentido da marcha dos saurópodes, autores das três pistas, torna-se evidente que os mesmos passaram em “timings” diferentes, afastando qualquer hipótese de comportamento gregário.



Pista 1 -

Observa-se pista completa de um saurópode de grande porte, com 4 marcas dos autópodes anteriores e posteriores, sendo o 4º par menos nítido. Consegue-se definir a orientação da marcha, porque é possível identificar as marcas das mãos à frente dos pés, além de se verificar o esmagamento posterior da impressão da marca da mão pela marca do pé.

As pegadas estão impressas em sedimento clástico típico de paleoambiente litoral, nota-se os rebordos salientes das pegadas, devido à pressão exercida pela elevada corpulência do animal.



Pista 2 -

Trata-se de uma pista completa com 4 marcas dos autópodes anteriores e posteriores, de saurópode de pequeno porte que se deslocava com uma orientação quase oposta ao animal da pista 1. Quanto às marcas em relevo que se verificam entre as pegadas, penso tratar-se de um fenómeno de bioturbação, do tipo icnogénero Thalassinoides característico de ambientes costeiros e não o rasto da cauda do saurópode até porque nessa efémera hipótese seria um sulco e não um relevo como mostra a foto.


Pista 3 -

Mais uma pista de saurópode, neste caso de médio porte, com 4 marcas dos autópodes anteriores e posteriores, sendo notório o esmagamento da marca da mão pela intercepção da área, e sobreposição posterior da marca do pé.

Podemos também verificar que este quadrúpede se deslocava com uma orientação perpendicular à pista 2 e oblíqua em relação à pista 1.

Todos eles passaram por aqui mas de forma isolada, em tempos diferentes embora muito próximos, dado que o aspecto da preservação das pegadas é muito semelhante.

 

Nivel 2 -

São visíveis 5 marcas profundas que apesar dos contornos verticais elevados, não apresentam forma característica, penso tratarem-se de sub-impressões que ficaram registadas num estrato inferior.

Resolvi determinar o valor do ângulo do passo, medido entre 3 pegadas consecutivas e em função dele determinar o tipo de animal que as produziu. O valor encontrado é de 108º (pistas de dinossáurios bípedes de 150º a 180º, pistas de saurópodes de 90º a 120º (Santos, 2008)), pelo que terá sido um quadrúpede o autor do rasto. Trata-se portanto de uma pista de saurópode de grande porte, mas onde só ficaram bem registadas 4 marcas e 2 outras mal definidas. Não me é possível através das fotografias, determinar com clareza quais são de mãos e quais as de pés, não arrisco portanto determinar o sentido da marcha.

Digamos que será uma pista do tipo “manus-dominated” ou “pes-dominated” onde devido ao paleoambiente e ao tipo de substrato ficaram registados apenas um dos autópodes. Por exemplo recorrendo a uma tabela das ocorrências de pistas “mdt” e “pdt” editada por P. L. Falkingham, K. T. Bates & P. D. Mannion, (2012), verificamos a existência em Portugal dos seguintes exemplos:




Nivel 3 -

Trata-se de um estrato onde a partir das fotografias que disponho, não são visíveis marcas de pegadas, o que não significa que não possam existir. Os traços que se notam na laje, penso que sejam atribuíveis a fenómenos de bioturbação.



Afloramento 2 – São visíveis 4 grandes marcas com forma ovalada de contornos mal definidos, penso tratarem-se de sub-impresões que ficaram registadas no estrato inferior. Aliás é visível em algumas a capa superior a desagregar-se.

Por via das dúvidas, determinando o valor do ângulo do passo, medido entre 3 pegadas consecutivas encontramos o valor de 107º, logo entre os parâmetros definidos para saurópodes de 90º a 120º. Portanto o animal que as produziu seria um grande saurópode, onde devido ao paleoambiente e ao tipo de substrato ficaram registados apenas os autópodes posteriores, pelo que estamos perante uma pista “pes-dominated”.

Infelizmente neste estudo prévio, não disponho de quaisquer medidas, mas fazendo do meu amigo Eurico, escala torna-se razoável dizer que o comprimento do pé seria cerca de 70 cm, logo aplicando a fórmula de cálculo para o valor (a) do comprimento do membro posterior até ao acetábulo (articulação da anca) para saurópodes, a=4 x Comprimento do pé, Alexander (1976). Direi que o comprimento do pé à anca deste saurópode teria pelo menos 2,8 metros.

E com base na posição das marcas dos autópodes, em relação à linha média do trilho, ausência de espaço entre as margens internas das pegadas, conclui-se que também é uma pista “ narrow-guage”. O que significa que a espécie de saurópodes que caminharam nesta jazida (Pedreira da Secil), são do icnogénero Parabrontopodus (Lockley et al., 1994), como no caso da Pedreira do Avelino e espécie diferente dos que deixaram os seus rastos na Pedra da Mua, Pedreira da Ribeira do Cavalo, que deixaram pistas "wide – guage", que pertenciam ao icnogénero Brontopodus isp (Santos e Neto de Carvalho, 2016).



Texto: Orlando Pinto, 2018